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Macapá

1° Ambulatório Trans Municipal

Prefeitura de Macapá inaugura 1° Ambulatório Trans Municipal

O Amapá News | 15/02/2025

1° Ambulatório Trans Municipal O ambulatório funcionará de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, oferecendo acompanhamento integral e multidisciplinar no processo de transição da população trans, sem restrição de idade | Foto: Jesiel Braga/PMM

Na última quinta-feira (13), a Prefeitura de Macapá deu um grande passo na garantia dos direitos e no acesso à saúde da população LGBTQIAPN+, em especial para pessoas trans, travestis e não binárias, com a entrega do 1º Ambulatório Trans Municipal, localizado no Centro de Especialidades Dr. Papaléo Paes. 

O equipamento da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), é fruto de emenda parlamentar do ex-deputado federal Camilo Capiberibe e contou com contrapartida do Tesouro Municipal.

O ambulatório funcionará de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, oferecendo acompanhamento integral e multidisciplinar no processo de transição da população trans, sem restrição de idade. No entanto, demandas clínicas não relacionadas à readequação de gênero não serão atendidas no local. 

(confira a lista dos serviços e especialidades no fim da matéria)

Pessoas trans são aquelas cuja identidade de gênero difere do gênero que lhes foi atribuído ao nascer. Já as pessoas não binárias não se identificam exclusivamente como homens ou mulheres, podendo estar fora dessa divisão tradicional, identificando-se com ambos os gêneros, com nenhum ou com algo completamente diferente.

Dados da 8ª edição do Dossiê: Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), apontam que o Brasil registrou, somente em 2024, o assassinato de 122 pessoas trans e travestis, mantendo o país no topo do ranking mundial de crimes contra a população trans. 

Essa realidade alarmante reforça a necessidade urgente de políticas públicas eficazes e de fácil acesso, como o ambulatório trans, além da criação de espaços seguros para acolhimento humanizado e livre de preconceitos. 

Luciana Valois, médica veterinária e mãe do jovem Henrique Valois, de 18 anos, que se descobriu homem trans aos 10, faz parte da Associação Mães pela Diversidade, uma organização não governamental que reúne mães e pais de crianças, adolescentes e adultos LGBTQIAPN+.

Ela relata que, durante todo o processo de transição de seu filho, sempre se esforçou para garantir seu conforto em todas as experiências, como escolas e consultas médicas. 

“Sempre que eu marcava algum médico ou exame, ia um dia antes e explicava: Olha, aqui está a carteira de identidade dele. Ele é um menino trans, e quero que o atendam pelo nome social. Eu sempre disse que essa seria uma luta minha. Posso ter medo da violência, sim, e das estatísticas, mas não posso viver a vida dele. No entanto, posso abrir caminhos e garantir que seja uma jornada tranquila”, complementa.


Luciana Valois faz parte da Associação Mães pela Diversidade | foto: Jesiel Braga/PMM




Mães pela Diversidade durante a entrega do 1º Ambulatório Trans | Foto: Jesiel Braga/PMM

Henrique Valois, o mais novo aprovado em medicina veterinária no Instituto Federal do Amapá (IFAP) – Campus Porto Grande, destaca a importância do ambulatório para a população trans, por oferecer, de forma gratuita, toda a assistência necessária durante o processo de transição.

“Esse ambulatório é de grande importância para nós, principalmente porque a população trans ainda é muito marginalizada. Muitos de nós não têm dinheiro ou apoio da família para realizar a terapia hormonal de forma correta, o que pode levar à morte ou a danos irreversíveis ao corpo”, conta. 

“Poder vir aqui, com profissionais capacitados e sem medo de represálias, é a certeza de que nós, trans de Macapá, continuaremos”, complementa. 


Henrique Valois tem 18 anos e é um homem trans | Foto: Jesiel Braga/PMM




Henrique e sua mãe Luciana | Foto: Jesiel Braga/PMM

Allan Gael, é enfermeiro, presidente do Conselho Municipal LGBT+ e idealizador do projeto TRANSformar, que deu origem ao ambulatório, afirma que o espaço vai além de um dispositivo de saúde, sendo o resultado de anos de luta por reconhecimento e respeito.

“Aqui receberemos pessoas que, desde a infância, estão em estado de vulnerabilidade, seja social, afetiva ou econômica. Garantir esse espaço dentro do maior centro de especialidades da cidade é mostrar que não há distinção entre os munícipes. Todos têm direito à saúde e ao respeito da sociedade”, conclui.


Allan Gael é o idealizador do projeto, que deu origem ao ambulatório | Foto: Jesiel Braga/PMM




Sala para procedimentos de enfermagem | Foto: Jesiel Braga/PMM

Para a secretária municipal de Saúde, Erica Aymoré, o espaço demonstra que a gestão está de braços abertos para atender todas e todos.

“É um marco histórico para Macapá. Este ambulatório representa um compromisso com a equidade e o respeito à diversidade, garantindo que todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero, tenham acesso a um atendimento humanizado e especializado. Sabemos que a população trans enfrenta desafios diários, desde o preconceito até a falta de acesso a serviços básicos. Com esse espaço, estamos não apenas oferecendo saúde, mas também dignidade e esperança. É um passo importante para transformar realidades e construir uma cidade mais inclusiva e acolhedora para todos”, relata a secretária.


Secretária Erica Aymoré ressalta a importância do novo ambulatório para a garantia da equidade e o respeito à diversidade | Foto: Jesiel Braga/PMM




Registro oficial da entrega do 1º Ambulatório Trans Municipal | Foto: Jesiel Braga/PMM

Como ter acesso ao Ambulatório Trans?

O acesso ocorre por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) ou por demanda espontânea. É necessário realizar o cadastro com Registro Geral (RG), Cadastro de Pessoa Física (CPF) e cartão do Sistema Único de Saúde (SUS). Na primeira consulta, o clínico geral fará a avaliação e os encaminhamentos necessários, além de solicitar exames complementares.

Confira a lista completa de serviços disponibilizados:

– Consultas médicas com clínico-geral  

– Enfermeiro  

– Endocrinologista  

– Ginecologista  

– Dermatologista  

– Psiquiatra  

– Urologista  

– Cardiologista  

– Psicólogo  

– Nutricionista  

– Assistente social  

– Fisioterapeuta  

– Fonoaudiólogo  

– Cirurgião-dentista  

– Realização de exames laboratoriais  

– Ultrassom  

– Mamografia  

– Densitometria  

– Fornecimento de medicamentos para hormonização (cipionato de testosterona e estradiol), conforme protocolo clínico  

– Vacinação  

– Testes rápidos  

– Coleta de Papanicolau (PCCU)  

– Realização de curativos

Por Matheus Gomes/  Foto: Jesiel Braga/PMM