Debatedores apontam possibilidade de terceira dose de vacina em idosos e imunossuprimidos
A Anvisa estuda a aplicação da terceira dose em públicos mais vulneráveis, como os mais idosos e os imunocomprometidos
Saiba mais
A preocupação sobre a necessidade de aplicação de uma terceira dose das vacinas contra a covid-19 foi levantada por senadores durante audiência pública, nesta segunda-feira (16), da comissão temporária que discute a pandemia (CTCOVID-19). Pesquisadores e a representante do Ministério da Saúde chamaram a atenção para a necessidade de observar o avanço e os efeitos das variantes do vírus no país, como a delta, para que, com base nos estudos, haja um planejamento com definição de público alvo para a revacinação, como os idosos e as pessoas com comorbidades.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) defendeu que, caso a comunidade científica determine a terceira dose do imunizante, o Ministério da Saúde reestruture a coordenação do novo ciclo de vacinação para conduzir de forma uniforme o processo.
— Qual critério para terceira dose? Qual fundamentação? Isso tem que entrar no Plano Nacional de Imunização. Até para não desconstruir o que nós construímos que foi o Plano Nacional de Imunização. Desejo que consigamos refazer a coordenação deste novo ciclo de vacinação. Com menos vírus político, com menos vírus de ego, vírus esse que esteve presente desde o anúncio da vacina.
Para a diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze de Sousa Freitas, o país precisa estar atento aos estudos internacionais, analisar os dados locais e abrir as discussões sobre a revacinação de forma “ponderada” para públicos específicos.
— A decisão de uma terceira dose não deveria ser generalizada. Mas sim a partir dos dados epidemiológicos, a partir das vacinas e levando em consideração os públicos mais vulneráveis, como os mais idosos e os imunocomprometidos. Essa decisão tem que ser sempre ponderada. Os líderes mundiais precisam levar em consideração a ampliação mundial e discutir a terceira dose para os grupos mais necessitados.
Ao ressaltar que o Brasil chegou a 200 milhões de vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde até este último fim de semana, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo, esclareceu que a possibilidade de revacinação está sendo avaliada pela pasta. Em resposta a questionamentos de internautas enviados pelo Portal e-Cidadania, Rosana destacou que todos os imunizantes contra a covid-19 aprovados e aplicados no Brasil são eficazes e, em regra geral, previnem a infecção e a mortalidade pelo vírus. No entanto, ela salientou que é preciso sempre avaliar o avanço da doença, suas variantes e a realidade específica do país para remodelar a operacionalização do Plano Nacional de Imunização.
— São experiências desse tipo [ocorrência de infecção e morte em vacinados] que nos darão subsídio para avaliar o tempo dessa terceira dose. Será que utilizaremos o mesmo intervalo se formos usar o mesmo imunizante? Será que utilizaremos um tempo maior ou será que teremos dose de reforço? Então tudo isso, eu espero que a gente consiga algumas respostas e é bem verdade que teremos essas respostas e possamos até modificá-las mais adiante.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) manifestou preocupação com a lentidão no processo de aquisição dos imunizantes pelo governo federal para a aplicação do atual plano contra a covid-19. Ela receia que, com a definição da aplicação da terceira dose, o ministério não tenha capacidade para agilizar essa nova compra.
— Mesmo que o Ministério da Saúde diga que não está faltando vacina, mas está.
Zenaide também defendeu que os estudos atentem para a necessidade de revacinação nos profissionais de saúde.
— Se for cientificamente comprovada a necessidade de uma terceira dose também acho que aplicar nos profissionais de saúde é de uma importância fundamental.
Na avaliação da pesquisadora Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca ENSP–Fiocruz, casos de mortes de vacinados idosos ou que possuem alguma comorbidade começam a ser relatados no país, o que exige urgência na decisão de se aplicar a terceira dose.
Questionada pelo senador Styvenson Valentim (Podemos-RN) sobre a morte do ator Tarcísio Meira em decorrência da covid, na quinta-feira (12), Margareth citou o caso como exemplo que reforça a necessidade de revacinação. O ator foi imunizado com as duas doses de vacina e cumpria as recomendações sanitárias.
— A morte de Tarcísio Meira reforça mais ainda o pleito que nós aqui trouxemos de absoluta necessidade, e eu diria mesmo, independente de resultado de estudos que ainda podem tomar muito tempo. Nós não precisamos acumular mais mortes sabendo que a imunodeficiência pode sim, a partir de uma determinada plataforma, no caso da Coronavac, exigir de nós uma decisão firme, corajosa de vacinar e proteger essa faixa etária.
Amin ainda questionou a secretária da Secovid sobre a autonomia de estados para comandarem vacinação, em duas doses, com imunizantes de laboratórios diferentes. Segundo ele, alguns estados estariam autorizando esse procedimento. Rosana esclareceu que o Ministério da Saúde, até o momento, só autorizou a vacinação heterogênea em grávidas e que, os demais públicos, devem seguir as definições que estão no Plano Nacional de Imunização.
— A intercambialidade foi liberada para as gestantes. Lembrem-se que teve todo aquele efeito adverso, que nós suspendemos temporariamente, avaliamos as evidências científicas e liberamos sim a intercambialidade para as gestantes, aquelas que tomaram AstraZeneca poderiam tomar a Coronavac ou a Pfizer. Principalmente aquelas que tomaram no início da gravidez, então o risco benefício era mais evidente se elas fizessem essa intercambialidade.
Apesar de alguns países terem realizado estudos e autorizarem a vacinação heterogênea, no Brasil, segundo Rosana Melo, ainda não há essa previsão.
Fonte: Agência Senado